domingo, 31 de agosto de 2014

Como é bom viver e ouvir os poetas

A vida, realmente, nos surpreende. Estamos aqui hoje, mas ninguém garante que estaremos amanhã. Como é bom vivermos de uma maneira lúcida, saudável e completa.

Digo isto, porque, na noite deste sábado, dia 30 de agosto, soube que o poeta e escritor Ezequiel Marinho, mais conhecido como Quiel Guarânea – O Tradutor do Amor, havia falecido. Segundo informações, ele teria passado mal em sua residência, na noite anterior, foi socorrido para o hospital, mas já chegou sem vida.

Confesso que não acreditei, tive que checar e custei a acreditar que era verdade, afinal, cinco dias antes eu o tinha entrevistado. Ele, muito alegre e entusiasmado, havia visitado a redação do site onde eu trabalho, para nos conceder uma entrevista. Na ocasião, Quiel falou sobre o lançamento do seu livro “Minha História no Tempo e o Pingo no i”. Apesar de já ter participado de outros quatro livros, este era o seu primeiro trabalho individual. Por isso, tanto apego e dedicação à obra.

Dormi neste sábado pensando e relembrando os 30 minutos da entrevista. Sentado na minha frente, seus olhos brilhavam quando falava do livro. Parecia um pai falando do seu primeiro filho que estava por nascer. Sua expressão era tamanha, sua alegria e ânimo eram surpreendentes. Raramente vi tão grande amor por uma obra como o que ele expressava naquele momento. Após saber da sua morte, outra coisa me veio à cabeça, faltava, exatamente, uma semana para ele concretizar o sonho, ou seja, para ver o seu “primeiro filho” nascer. O lançamento do livro aconteceria no próximo dia 5 de setembro, no Teatro Municipal Alberto Martins. Que pena, não deu tempo.

Deixo aqui as minhas condolências à família e aos amigos de Quiel, privilegiados que puderam conviver diariamente com ele, que puderam ouvir seus poemas e tiveram a oportunidade de ver o brilho em seus olhos todas as vezes que ele criava novas palavras (esta parte só saberão aqueles que tiverem a oportunidade de ler o seu livro).

Segue link da matéria publicada um dia antes da sua morte: http://www.nossametropole.com.br/poeta-de-camacari-lanca-livro-durante-show-cultural-beneficente/#.VAMkw8VdVe4

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Como é bom conversar com os mestres

Por Fernanda Melo



Na última sexta-feira, dia 8, participei de um talk show, onde estiveram presentes dois grandes nomes da língua portuguesa, os professores Pasquale Cipro Neto e Jorge Portugal. Na ocasião, foram abertas oportunidades para que a plateia fizesse perguntas aos ilustríssimos mestres.

E eu não poderia ficar de fora, é claro. Iniciei perguntando sobre as grandes perdas que o Brasil teve recentemente, como João Ubaldo Ribeiro, Ariano Suassuna e Rubem Alves. O que significou para o Brasil a morte desses grandes nomes da nossa literatura? Mas, para apimentar o discurso, citei o “ganho” que o país teve de uma grande pensadora contemporânea, a Walesca Popozuda _ relembrando aquele episódio onde um professor de filosofia inseriu em sua prova um trecho da música da funkeira. Então, educadíssimo e sereno, Pasquale me responde: “Não sei se posso te responder, pois nessa questão, sou um extraterrestre. Nunca a vi, não faz parte do meu mundo. Nessa prova, com certeza eu tiraria zero porque eu desconheço essas porcarias de repertório medíocre”. Ele ainda acrescentou: “Parece que o Brasil adora se afundar na mediocridade. É um país muito pobre. Quando vejo essas coisas, eu tenho alergia, passo mal, tenho faniquito”.

Ainda respondendo à minha pergunta sobre a perda dos grandes ícones da literatura brasileira, ele não economizou elogios. Sobre Suassuna, disse que ele “transcendia os textos que escreveu, era polêmico, inteligente e tinha caráter”. Sobre Ubaldo, disse que “tivemos uma grande perda, além de literária, humana”. E sobre Rubem Alves, “ele era uma figura humana sempre preocupada com a população”.

Bom. Regozijo-me sempre quando ouço esses grandes mestres. Figuras que acrescentam e muito no nosso aprendizado. Que bom que um dia tive oportunidade de entrevistá-los_ antes do talk show, gravamos uma entrevista em vídeo com Pasquale e Portugal. Um dia poderia dizer aos meus filhos que já entrevistei um dos maiores ícones da língua portuguesa do nosso país, o professor Pasquale Cipro Neto, conhecido pelo programa “Nossa Língua Portuguesa” da TV Cultura e colunista do Jornal Folha de São Paulo.


Fernanda Melo é jornalista